PALEOCEANOGRAFIA DO SISTEMA DE RESSURGÊNCIA DE CABO FRIO (RJ) NOS ÚLTIMOS 12.000 ANOS INFERIDA POR GEOQUÍMICA E ASSEMBLEIAS DE FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS
Ressurgência costeira
Brasil
Holoceno
Mg/Ca. 18O
Geoquímica
Foraminífero planctônico
Ressurgência
Cabo Frio (RJ)
Produção intelectual
Planktonic foraminifera
Coastal upwelling
Brasil
Holocene
Mg/Ca. 18O
Lessa, Douglas Villela de Oliveira | Postado em:
2013
Resumo
A presente tese teve o objetivo de reconstruir a paleoceanografia do Sistema de Ressurgência
de Cabo Frio (SRCF) nos últimos 12.000 anos através da utilização de proxies ecológicos
(comparação entre as assembleias do SRCF com as assembleias das áreas adjacentes com
diferentes feições oceanográficas) e geoquímicos de foraminíferos planctônicos, além de obter
maior conhecimento sobre a distribuição das espécies sob diferentes configurações
oceanográficas, e avaliar e aplicar a recente metodologia de ablação a laser + ICP-MS para
análises elementares em carbonatos de foraminíferos.
Para isso, 34 topos de box-cores englobando o SRCF e as áreas adjacentes nas bacias de
Santos e Campos e dois testemunhos a gravidade foram usados. O agrupamento das
assembleias na Margem Continental do Rio de Janeiro (MCRJ) indicou a ocorrência de quatro
principais biofáciess espacialmente bem-separadas: biofácies A - talude da bacia de Campos
(contribuição de espécies tropicais e subtropicais caracterizando a frente da Corrente do
Brasil, CB), biofácies B - bacia de Santos (maiores contribuições de espécies relacionadas à
produtividade, caracterizando sinal de mistura de massas de água costeiras produtivas e
oceânicas oligotróficas), biofácies C – setor norte do SRCF (contribuições de G. ruber e
Globigerina bulloides, caracterizando ambiente de ressurgência com frequentes atenuações
por águas quentes) e a biofácies D – setor sul do SRCF (contribuição de espécies indicadoras
de águas frias e produtivas, caracterizando uma configuração influenciada pela ressurgência
Ekman). Além disso, a distribuição espacial de Globoturborotalita rubescens revelou
preferencia desta espécie por águas de plataforma continental e Globigerinella calida sendo
associada a pós-ressurgência.
Os testemunhos CF10-01B (mais distante da costa) e CF10-09A (mais próximo da costa)
cobrem os últimos 11,5 e 7,1 ka cal, respectivamente sendo o primeiro mais influenciado pela
Corrente do Brasil, expressando um sinal mais fraco da ressurgência que o segundo.
No testemunho CF10-01B, o 18O de G. ruber foi mais variável que o 18O de G. bulloides
apresentando dois períodos de diminuição após 9,0 ka cal AP e após 4,0 ka cal AP, enquanto
o 18O de G. bulloides diminui após 9,0 ka cal AP e permanece constante até o topo. No
testemunho CF10-09A, o 18O das duas espécies variaram de forma antagônica com uma
mudança entre 5,0 e 4,5 ka cal AP onde o 18O de G. ruber diminui de -0,4 para -1,0 ‰ e o
18O de G. bulloides aumenta de -0,8 para 0,0 ‰.
Os resultados da razão Mg/Ca obtidos pelo método de ablação a laser indicaram uma
heterogeneidade intra-câmara que resultou em uma incerteza de 1,49°C para reconstruções
com G. ruber e 0,6°C para G. bulloides, assim como amplitudes individuais de 3,0 a 4,0
mmol/mol para G. ruber e de 3,0 a 5,0 mmol/mol para G. bulloides e diferenças significativas
entre a última câmara (f) e as anteriores (f-1 e f-2) para as duas espécies. Tais efeitos foram
associados ao efeito vital de simbiontes, a grande amplitude de temperatura existente
sazonalmente no SRCF e a migração das espécies para águas mais profundas durante a
reprodução. As razões Mg/Ca obtidas pelo método clássico foram geralmente mais altas que
as razões obtidas pelo método de ablação a laser (LA-ICP-MS) mas se aproximaram e
apresentaram variação temporal semelhante aos valores médios obtidos nas câmaras f-1 e f-2.
Dessa forma podemos usar a razão Mg/Ca média das câmaras f-1 e f-2 para reconstruções de
paleotemperatura de superfície, habilitando também a utilização da diferença entre as razões
Mg/Ca das câmaras anteriores e final de G. ruber para reconstruir a estratificação da água.
Entretanto, a diferente variabilidade entre a razão Mg/Ca da câmara f de G. ruber e a razão
média de G. bulloides indicou possíveis sucessões sazonais, o que nos fez associar as
temperaturas reconstruída por G. bulloides como temperaturas da camada de máximo de
clorofila, podendo ser associada a intensidade da ressurgência.
O período de variação do nível do mar (11,5 – 6,0 ka cal AP) foi marcado pela presença de
águas frias, produtivas e homogêneas associadas possivelmente à ressurgência costeira cuja
contribuição diminuiu à medida que a transgressão seguia e a frente da CB se aproximava,
alcançando um primeiro máximo entre 7,0 e 6,0 ka cal AP no ponto 1 e entre 6,0 e 5,5 ka cal
AP no ponto 9, marcado por águas quentes na superfície e frias na subsuperfície. Entre 5,5 e
3,5 ka cal AP, a ressurgência gradualmente se intensifica com maiores efeitos próximo a costa
e mais restrita a subsuperfície na porção distal. A influência costeira apresenta um aumento
em 5,0 ka cal AP na porção proximal e 4,0 ka cal AP na região distal. Entre 3,5 e 2,5 ka cal
AP um forte sinal de águas quentes pouco estratificadas foi observado com maior influência
de águas oligotróficas no ponto 9 e mistura de águas costeiras e oceânicas no ponto 1. Após
2,5 ka cal AP, o SRCF adquire suas configurações atuais marcadas por eventos intensos de
ressurgência na porção proximal da plataforma e mais restritos a subsuperfície na porção
distal. Isso pode ser associado ao fortalecimento da ZCAS ligado a intensificação da monsão
Sulamericana no Holoceno Superior devido ao aumento da insolação de verão.
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TeseAssunto(s)
Foraminíferos planctônicosRessurgência costeira
Brasil
Holoceno
Mg/Ca. 18O
Geoquímica
Foraminífero planctônico
Ressurgência
Cabo Frio (RJ)
Produção intelectual
Planktonic foraminifera
Coastal upwelling
Brasil
Holocene
Mg/Ca. 18O